Tons de Cinza

50 tons de Cinza – O Sofrimento Familiar expressado na sexualidade

A trilogia que conquistou milhões de pessoas coloca em pauta o Sadomasoquismo, uma fixação psíquica primitiva que associa castigo, dor e amor.  O casal – Anastasia e Christian são levados pelo sexo performático. Seus leitores transitam por fantasias e desejos arquitetados por uma engenharia maligna que projetam uma falsa ideologia de sexualidade e romance.

O mundo bilionário de Christian e a inicial inocência de Ana despertam sentimentos e sensações que devem ser refletidos. Observamos que durante a estória pouco se sabe do pai de Anastasia e sua mãe se mostra distante. A personagem traz a tona um dos conflitos observados na mulher contemporânea – estuda, trabalha, anseia por independência, mas ao entardecer se torna emocionalmente dependente de uma relação afetiva.

Coloca-se à mercê de um homem ameaçador, mas por ser rico e poderoso sua estranheza é perdoada. Como nos contos de Barba Azul. Ao passar do tempo a imaturidade da personagem ganha ares mais ousados uma mistura de controle e sedução na tentativa de transformar Christian em um homem idealizado por ela. Anastasia espera que esse homem a conduza em todas as situações do seu dia a dia, como uma menina que espera pelo amor de sua mãe e pela segurança de seu pai.

A relação é limitada por um contrato: ‘Não entre no quarto’. Que quarto é esse? Qual será a raiz do sofrimento de Christian? Será que a atitude agressiva e possessiva com as mulheres é direcionada a alguma mulher em especial? As chicotadas são destinadas a quem? Christian se apresenta poderoso com as mulheres, mas se mostra um menino abandonado na possibilidade de Anastasia recuar o contato. Novamente ele sentiria o trauma do abandono? Se a companheira(o) vai embora que trauma é revivido?

São muitos questionamentos que nos levam às reflexões sistêmicas desse personagem. Sabemos que Christian ficou órfão na primeira infância, sua genitora era prostituta e ele passou por vivências traumáticas. Mãe e madrasta se misturam na sexualidade doentia. Onde estava a substituta da mãe quando o menino era abusado por sua amiga? E Christian, onde ele se encontrava enquanto sua mãe fazia programas? E o seu pai?  São tantos os tons de cinza.

Quantos Uncubus e Succubus drenam a nossa energia em dramas como esse? O que move tantas pessoas para o consumo de livros e filmes nessa temática? Apenas curiosidade?  Reforço do conteúdo dos contos de fadas onde a mocinha precisar sofrer muito para ser feliz com um príncipe/sapo? Estímulo sexual? Domínio sobre o outro? Controle? São muitos os questionamentos e para finalizar o texto: Se o outro causa dor e não é possível a separação qual é a história que estamos repetindo?

Fátima de Oliveira

Comments
Share
dcult